entre-Vistas

Friday, May 04, 2007




Manuel Jorge Marmelo


“O escritor é um vampiro: tira bocadinhos à realidade, amassa-os e cria a sua ficção, o seu mundo novo”


Por detrás de um ar de miúdo, conta já com uma vida plena em estórias. De ironia aguçada, tem uma expressão triste, mas ri-se muito das suas próprias palavras. Diz ser escritor desde sempre, embora não tenha qualquer pretensão em escrever sob focos das luzes da ribalta.
Manuel Jorge Marmelo nasceu e vive no Porto há 35 anos. É jornalista no Público desde os 18, mas nunca acreditou na santa objectividade. Estudou Filosofia, num episódio muito curto, e diz que a realidade é a melhor fonte da ficção.
Ao gritar O Silêncio de um Homem Só, em 2004, ganhou o Prémio Camilo Castelo Branco. Faz parte do Dicionário de Personalidades Portuenses do Século XX e já o consideraram um autor de excepção. Ainda assim, não se deixa paralisar por rótulos, continuando numa busca despreocupada da sua entidade literária.
Numa singular manhã de sol na cidade nortenha, submerso na tranquilidade da casa onde se faz música, Jorge Marmelo conta o passado que traz nos bolsos e o futuro para onde o vento o leva.


“Todos [os escritores] sabem que podem fazer melhor, mas há um momento em que têm de libertar o livro.”

Diz ser escritor desde sempre...
Sim, desde que aprendi a escrever, com seis anos. Mas o processo de criação literária, a sério, começou em 1995/96, quando editei o meu primeiro livro – O Homem que julgou morrer de Amor –, que foi agora republicado. Antes disso, tinha feito umas tentativas frustradas, contos que não chegaram a lado algum.

Porquê frustradas?
Reconhecia-as como tal. Desistia a meio. Penso que não se tem maturidade para escrever um livro com 18 ou 20 anos. Prova disso é que 10 anos depois de ter editado o primeiro livro, ao editá-lo outra vez, praticamente o reescrevi. Naquela altura, consegui acabar o livro, fazer um livro que interessou a uma editora. Passados alguns anos, penso que talvez o devesse ter escrito de outra maneira. Foi o que fiz agora.

Tem que ver com perfeccionismo?
Nada. Se assim fosse, nunca teria editado nenhum livro. Reescrevia-os durante anos, de forma constante. Há um momento a partir do qual te apercebes que nunca vais chegar à perfeição. Não adianta estar estagnado e guardar o livro para mim. O meu novo romance – Aonde o Vento me Levar –, fala precisamente disso. Da impossibilidade de qualquer escritor – mesmo os mais conceituados – achar, no final da sua obra, que escreveu o livro perfeito. Todos sabem que podiam fazer melhor, mas há um momento em que têm de libertar o livro.

Não é arriscado reescrever um livro? Não é como reescrever uma parte da vida?
Não. Tenho, pelo menos, a pretensão de escrever um bocadinho melhor. Não se trata de reescrever uma parte da vida. Com a vida é pior. Trazemos o passado nos bolsos, não podemos livrar-nos dele. Assumo o que fiz. Se fosse arriscado, deixava que o livro caísse no esquecimento.

Lançou, aos 25 anos, o seu primeiro livro. A partir daí, lançou um livro por ano. Escrever é uma necessidade voraz?
Também, mas acima de tudo, essa média de livro e meio por ano resulta de ideias inesperadas. Não acho que seja tudo literatura. Tem livros de crónicas e colectâneas de coisas que escrevi no Público aí pelo meio (risos). Se for a pensar apenas nos romances e nos livros de contos – que era o que queria fazer, como plano prévio –, essa média baixa, certamente. As coisas vão surgindo sem que planeie. É um processo espontâneo, não tanto fruto dessa necessidade.

O que mudou na sua escrita, 10 anos depois?
Muita coisa. Envelheci. O envelhecimento tem também aspectos positivos. Quando escrevi o primeiro livro, era jornalista há 4/5 anos, tinha esses anos de prática de escrita diária. Neste momento, sou jornalista há 17 anos. É como no futebol – treina-se para se apurar a técnica. Na escrita também (risos).

É fruto de trabalho e não só de inspiração, portanto.
Costumo dizer que a inspiração é importante, mas só se estiveres sentado a escrever quando ela chega perto de ti.

Consegue rever-se nos seus livros mais antigos?
Sim. A realidade ultrapassa, muitas vezes, a ficção, mas nunca os sentimentos. O homem que julgou morrer de amor, por exemplo, está aí. Esteve sempre por aí. A mudança de palavras com que conto esse homem não muda o que sinto. Não renego o meu passado.

Escreve propositadamente?
O facto de manter um blog há já três anos, obriga-me a escrever textos quase todos os dias, que não sejam notícias de jornal. Muitas vezes, o que escrevo no Tatarana serve de nota para coisas que desenvolvo posteriormente. São ideias que não deixo escapar.

Para além do treino de escrita, é uma forma de aproximação com os leitores?
Sim, permite um feedback directo e experiências com a escrita. É um modo de saber se são experiências a que posso dar continuidade. Já me aconteceu escrever textos de quatro linhas sem nenhuma pretensão e as pessoas mostrarem entusiasmo por eles. Não há grandes compromissos – o texto não fica publicado, acaba por se diluir na blogosfera.

Aprecia muito a liberdade de experimentar com as palavras?
Sim, é uma busca enquanto escritor, enquanto pessoa. A única maneira de te descobrires é através da experiência.


“Sei que estou a fazer artigos que não vão mudar o mundo. Há um desencanto em relação ao jornalismo.”

Começou por ser jornalista desportivo. Como é que surgiu essa oportunidade?
Por um acaso e por muita sorte. Tinha acabado de concluir o 12º ano, quando o Público abriu o concurso para estagiários. Concorri sem qualquer experiência ou formação universitária, algo que eles requeriam. Enviei uma carta onde dizia que queria tentar, ainda assim. Chamaram-me para um teste e, após uma entrevista, fui seleccionado para tirar um curso no Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR). Na altura, fui um dos 20 seleccionados para ficar no Público, sendo o único disponível para ficar no Desporto. Não era o que queria fazer por toda a minha vida, tanto que só o fiz por 3 anos. Porém, foi uma porta de entrada no jornalismo.

Via o jornalismo como uma proximidade entre o mundo e a palavra?
Tinha uma visão muito romântica da profissão. A vertente da denúncia, da ajuda, aliciava-me. Hoje, sei que estou a fazer artigos que não vão mudar o mundo. Há um desencanto em relação ao jornalismo.

O jornalismo é uma obrigação?
A maior parte dos dias. Claro que há outros em que descobres histórias que te entusiasmam e que te fazem manter na profissão. Mas mais do que enfadonho, é um trabalho demasiado burocrático.

Um jornalista tem de lidar com a santa objectividade. Já o escritor é um ser totalmente subjectivo. Como convive o contista com o jornalista, dentro de si?
O jornalista faz o horário das 9 às 5, enquanto o contista pega ao serviço depois (risos). Nada é assim tão rígido, claro. O jornalista não é sempre objectivo, muitas vezes tem de ser subjectivo.

Porquê?
Porque não somos máquinas. Mesmo que tentemos ser objectivos, vai ser sempre a nossa objectividade. Tentamos ser o mais verdadeiros possível com a nossa consciência, mas tendo noção de que não há uma verdade absoluta.

Sente-se preso, na profissão de jornalista?
Não. Lido bem com as obrigações jornalísticas. Quando há factos, relato-os. Mas há sempre pontos de fuga para escapar a uma objectividade que te amordace.

Estudou Filosofia Clássica, durante dois anos. O estudo alimenta a escrita?
Sim, essa passagem quase episódica pelo curso de Filosofia foi por uma questão de auto-formação, de enriquecimento pessoal.

Porquê Filosofia?
Porque é a raiz de todos os outros conhecimentos. O meu professor de Filosofia chamava-me, inclusivamente, “O Sofista”. Dizia que eu escrevia bem, mas não estudava nada. Respondia sempre, inventando muito (risos). A Filosofia dava-me liberdade de escrita.

Disse que esse campo histórico/filosófico é de tal modo impreciso que abre caminho à especulação e à ficção. A realidade contém já uma boa dose de ficção?
Sim, a maior parte das ficções têm origem na realidade que, não raras vezes, é inverosímil. O escritor é como um vampiro: vai pela rua fora e utiliza certas características das pessoas para construir personagens ficcionadas. Tira bocadinhos à realidade, amassa-os, e cria a sua própria ficção, um mundo novo. As personagens têm muito das pessoas que conhecemos e, muitas vezes, de nós próprios.

Tem tendência para ser como o anjo Damiel – da crónica Nas Asas da Boavista – e contemplar a cidade?
Tento ser um observador razoável. Aliás, deve ser uma das características fulcrais do jornalista. Quando saio em reportagem, gosto de ir sozinho, sem câmaras ou máquinas fotográficas. Tenho uma percepção mais aproximada da realidade. A objectividade é completamente subjectiva – a realidade altera-se pelo menor número de coisas.


“Nunca se sabe se se é completamente original ou um resultado directo das leituras que se fez.”

Há tendência para rotulá-lo como “novo talento literário”.
Sim, em Portugal és novo talento até aos 40 anos... (risos) Fiquei admirado com o Público – que nunca publica nada sobre mim – porque me apelidou de “autor de excepção”.

Como lida com esses rótulos?
Tento não ligar. As pessoas sentem necessidade de classificar as outras. Eu próprio, enquanto jornalista, farto-me de rotular pessoas com “títulos” em que não se revêem.

Não o assusta ser considerado um “autor de excepção”?
Cheguei a temer que esse tipo de coisas tivesse consequências nefastas na criação literária. Por exemplo, quando a Asa me convidou para escrever Os Fantasmas de Pessoa, senti-me perdido. É quase um atrevimento escrever sobre alguém como Fernando Pessoa.

É sempre difícil revisitar Pessoa. Como conseguiu ultrapassar o medo?
Pensei que tinha de escrever uma história como as outras, esquecendo que era sobre Pessoa. Olhei para ele como um personagem, um boneco. Tentei esquecer a história fixa que existe, desligá-lo da figura histórica que ele, de facto, é.

Muitas vezes, ganhar um prémio tão importante como o Prémio Camilo Castelo Branco, como é o seu caso, também é castrador da criatividade.
Sem dúvida. Se pensasse que nunca mais iria escrever algo tão bom como O Silêncio de um Homem Só, centrar-me-ia nas expectativas que tinham sobre mim e correria o risco de nunca mais escrever nada. Comecei a escrever por gostar de escrever. Espero continuar a fazê-lo pelos mesmos motivos e não pelo que os outros dizem de mim.

Diz estar ainda a procurar-se como entidade literária. É uma procura incessante, preocupada?
Penso que não. Escrevo mais para me descobrir enquanto pessoa. Os meus livros de há 10 anos atrás mostram uma pessoa diferente, menos complexa. Sinto que ainda não cheguei ao ponto de ter criado o estilo que acho que posso e quero ter.

E que estilo é esse?
Não sei. Se soubesse, seria fácil essa procura.

Afirma não estar satisfeito com nada do que escreveu até agora. É permanente, a insatisfação?
Alguns escritores ficam satisfeitos, como o caso do [António] Lobo Antunes. Agora, quando não temos essa postura diante da vida, jamais nos sentimos satisfeitos. É natural e inerente ao ser humano. Quando chegas ao fim de um livro, sabes que venceste o desafio apenas de forma parcial.

É importante, para si, fazer diferente?
Só vale a pena se for para fazer diferente. Se for para escrever livros iguais aos outros, os outros já o fizeram. Faz parte do processo de criação. Há gente que ganha a vida a copiar os outros, mas isso não me interessa. Nem enquanto pessoa nem enquanto escritor. A tentativa de originalidade é a única forma de dar sentido à minha escrita.

Diz não saber em que estilo se insere, mas associam-no a um humor cáustico, a um pendor lúdico...
Talvez. Não consigo ser tão original como isso. Há milhões de livros no mundo e nunca iremos lê-los todos. Logo, não sei se não haverá alguém que faça algo semelhante ao que faço. Há referências que tenho e que, não tentando imitá-las, me ajudam a criar algo tributário da minha herança cultural. Acho que nunca se sabe se se é completamente original ou um resultado directo das leituras que se fez.

Que referências são essas?
Autores por onde comecei a minha busca enquanto leitor. [Gabriel] García Márquez, [Manuel Vázquez] Montalbán, [Enrique] Vila-Matas, Rubem Fonseca... E essa busca é contínua. Ainda o ano passado, descobri um livro que já devia ter lido há muitos anos atrás: Grande Sertão: Veredas do Guimarães Rosa. É uma abordagem da língua completamente diferente daquilo a que estamos habituados. É impossível ler esse livro e continuar a escrever da mesma maneira.

Como é que lida com as eventuais comparações?
Desde que me comparem com autores de que gosto, lido bem com a situação. As comparações são como os rótulos: as pessoas precisam delas como um apoio, como uma referência para aquilo que vão ler.

É um escritor discreto, afastado das altas-luzes. É uma atitude propositada?
A ser verdade, tem algumas explicações possíveis. Primeiro, não estou em Lisboa, o que limita bastante o acesso aos meios de comunicação social. Depois, tenho uma vida que não me deixa muito espaço para participar em conversas, encontros ou programas. Não tenho tempo para andar em festas, digamos assim (risos).

Francisco José Viegas diz que o Jorge é um narrador subestimado. Concorda?
Não. Para tal, teria de ter algum tipo de pretensão com aquilo que faço. Toda a gente gosta de ver o seu trabalho reconhecido, mas não me custa nada admitir que sou pior do que outros. Normalmente, faço apresentações dos meus livros com 4 ou 5 pessoas de ar muito aborrecido (risos).

Em Portugal, a literatura apelidada de light está no topo das vendas. Acha que há tendência para um facilitismo de compreensão literária?
Não. O Gonçalo M. Tavares, o José Luís Peixoto ou o Pedro Rosa Mendes não têm livros de leitura fácil e também são reconhecidos. São pessoas diferentes que abordam assuntos iguais de maneira distinta.

Como vê essa literatura light?
Vejo como algo que não me interessa. Mas entendo que haja quem goste e penso, inclusivamente, que pode transformar muitas pessoas em leitores. A partir do momento em que lêem um desses livros, podem querer ler mais e melhor. Daqui a alguns anos, podem mesmo estar a ler livros decentes (risos).



“Portugal é assim por nossa própria culpa. Os habitantes traem-se a eles próprios.”

Em várias crónicas, fala da vontade de se divorciar de Portugal. Mantém essa vontade?
Se não tivesse filhos, já teria emigrado. A cada ano que passa, dizem-nos que o país está pior, dizem-nos para pagar mais impostos sem que se saiba muito bem para quê. Chateia, ao fim de um tempo. Pedem-nos sacrifícios, mas não vemos recompensas. Portugal é um país com demasiados aspectos mesquinhos e atrasados.

Há uma espécie de traição do país para com os seus habitantes?
Os habitantes traem-se a eles próprios. O país é assim por nossa própria culpa. Por minha, também.

Que meios usa para levantar a voz?
Antes de mais, voto. Jamais me abstive. Mesmo sabendo que, no final, ganham os mesmos, levanto-me. Uso também o papel de jornalista – em artigos de opinião –, para denunciar algumas realidades. Mas apercebo-me, cada vez mais, de que falo para quem tem a mesma opinião que eu. Uma vez, abordaram-me numa Feira do Livro no Porto, dizendo que gostavam muito do que escrevia, excepto o que dizia contra o Presidente da Câmara do Porto. As pessoas têm uma ideia feita sobre as coisas. Não é por lerem o Jorge Marmelo que vão mudar de opinião.

Há uma espécie de conformismo na atitude das pessoas?
Sim. Acho que se adoptou, em relação a tudo, uma posição semelhante à que temos relativamente ao nosso clube de futebol. Uma relação sentimental, de fidelidade inabalável.

A cidade do Porto é personagem frequente nos seus livros. É uma cidade irrepetível?
Sim, é uma cidade que guarda muitas estórias. Mas não gosto do Porto de forma racional. Lá está, é uma relação sentimental. Nasci e sempre vivi aqui. Gosto dos dias de sol no Porto, gosto de passear nas ruas da cidade. Talvez se consiga fazer isto em todas as cidades, mas eu fiz no Porto. Escolhi um recanto e fiquei a observar a cidade a acontecer à minha frente, à minha volta. Provavelmente, em qualquer outro sítio seria igualmente encantador e sugestivo.

José Mário Silva disse, relativamente ao livro a que se refere – Porto: Orgulho e Ressentimento –, que transformou a cidade em literatura. Acha que a literatura também transforma a cidade?
Completamente. É um pouco como a personagem do meu novo romance que não entra em Maputo por não querer estragar a imagem que tem da cidade, dada pela literatura. As cidades não têm que existir tal como nós as conhecemos. Se formos a Barcelona, podemos não encontrar a Barcelona do Montalbán. Podemos reinventar uma cidade através da literatura, conferir-lhe facetas que na verdade não tem.

Como se o mundo fosse um texto por moldar?
Isso mesmo. As palavras são sempre uma mediação, nunca o espelho da realidade.

O livro Oito Cidades e Uma Carta de Amor é feito de contos ilustrados por imagens. A palavra ilustra a imagem?
As imagens podem ser ponto de partida, como bloco de notas para as histórias que criei de seguida. Acontece-me, frequentemente, uma fotografia sugerir-me coisas. Há um ano e tal que publico na revista O Tripeiro, na secção Fotonovela, contos suscitados por fotografias. No meu novo romance, todas as imagens de África são feitas por palavras inspiradas em fotografias que vi.



“Chego à conclusão de que há muito para descobrir, mas que essa descoberta vai ser um pouco dolorosa.”

Escreve muito por detrás do olhar de um homem sofrido. Exemplo disso é o conto O Silêncio de um Homem Só. Escrever é uma forma de gritar os silêncios?
Escrever é mais uma forma de preencher a solidão, o vazio. Mas não acho que escreva sobre coisas más. De coisas más está a vida cheia.


Com que livros tem partilhado a mesma sala?
Tenho tendência por ser fiel a um grupo restrito de autores. São as minhas companhias. De momento, estou a ler o próximo livro da Patrícia Melo – Mundo Perdido.

Citou, no blog, Máiquel, um personagem desse Mundo Perdido de Patrícia Melo, quando este diz: "Esse é o meu problema, o início das coisas. (...) Prefiro não tomar decisões. Prefiro esperar. Empurrar com a barriga.” Prefere a iniciativa ou o empurrão?
Tenho a tendência de ir empurrando com a barriga, ao invés de resolver as coisas. Acabamos por passar os dias sem fazer nada do que devíamos estar a fazer. Isto aborrece-me muito.

É sinal de desistência?
Aos 35 anos, sim, começo a desistir antes de começar. Chego à conclusão de que há muito para descobrir, mas que essa descoberta vai ser um pouco dolorosa.
Digo estas coisas como digo que O Amor é para os Parvos e, no entanto, os erros voltam a ser cometidos. Mas quando se tem 35 anos já não os podes corrigir.

Acha que o mundo devia vir com manual de instruções, como as suas mulheres?
Sim, nesse aspecto concordo totalmente com o senhor Madureira (protagonista do livro As Mulheres deviam vir com Livro de Instruções) (risos).


Entre-Vista: Marta Poiares
Foto: JoãoLuc